sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Educação




Martin Buber, um teólogo que prega o diálogo

Filósofo judeu sugere que os professores ensinem os jovens a conviver com o próximo

Martin Buber (1878-1965) foi um respeitado jornalista e teólogo. Defensor da coexistência entre árabes e judeus, foi um crítico do modelo adotado na construção do Estado de Israel e, como filósofo, publicou um livro de menos de 100 páginas que é considerado um dos mais densos e belos da área: Eu e Tu, de 1923.

A base de seu pensamento é o diálogo, como única saída para o mundo em que viveu, dividido e marcado pela intolerância e pela violência – um pouco como os dias atuais. Buber aplicou à Pedagogia os conceitos que usava em sua defesa da paz. Ele explica como, a seu ver, o processo educativo deve privilegiar a conversa e a cooperação entre as crianças. Para ele, saber se relacionar é mais importante do que ser individualmente bem-sucedido. “A relação eu-tu é um ato essencial do homem, atitude de encontro entre dois parceiros na confirmação mútua”, destaca Newton Aquiles von Zuben, professor de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas e tradutor de Buber para o português. Essa união tem como pressuposto o nós e só existe se houver diálogo.

Os conceitos da obra-prima seriam retomados em toda a sua produção, inclusive em ensaios pedagógicos escritos ao longo da vida. A professora Maria Betânia do Nascimento Santiago, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ressalta, numa tese que resume toda a obra do pensador, como ele vê o processo do aprendizado no ser humano. No começo da vida, segundo Buber, a criança vivencia o mundo admirando o outro, o tu. Esse tu, mais tarde, vai ajudar na constituição do eu, na medida em que a criança for percebendo seus próprios limites em relação ao que ela imaginava sobre as pessoas que a cercam.

Bem no começo da infância, o eu tem a ilusão de ser onipotente e vive num mundo de fantasias. Com o tempo, o sujeito percebe que não é perfeito e, mais ainda, que vai sempre depender das relações – mentais ou sociais – que estabelece com o tu. “O tu inato expressa- se na ternura e na reciprocidade. O homem se torna eu na relação com o tu”, cita Maria Betânia. Além disso, assim que percebe a distância entre o eu e o tu, surge o chamado impulso de criação, pelo qual o ser humano, ao se encontrar vivendo com outros, passa a ter a necessidade de criar – coisas e a si próprio. “Tudo o que aparece e acontece com o homem se transforma em algo motor, num poder fazer ou num querer fazer”, escreveu ele.

OS RISCOS DA EXERCITAÇÃO E O PAPEL DO PROFESSOR NA GESTAÇÃO DO EU
O impulso de criação, segundo Buber, nunca deve gerar uma produção vazia, já que não deve ter como finalidade um ter, mas um fazer – e bem pensado. Como a criação é unilateral, no entanto, a criança que não reflete sobre o que faz corre o risco de se tornar egoísta e de não se constituir plenamente. Caberia ao educador ensinar que a criatividade e o sucesso não são nada se não vierem juntos da consciência da participação nas coisas e da necessidade da reciprocidade. Essa espécie de desvio do impulso de criação é contrabalançada por outra: o impulso da interligação. Segundo o filósofo, é com essa força que “desejamos que o mundo se torne a pessoa presente que nos acolhe e reconhece, assim como nós a ela, que se confirma em nós, assim como nós nela”. Saber orientar essa construçãoé uma das grandes responsabilidades do professor, adverte Maria Betânia.

“O caminho para a Educação é deixar- se guiar pela própria realidade, tendo um posicionamento que, mesmo suave, deve ser firme, pelo compromisso de revelar o que é certo e o que é errado.” Buber critica muitas posturas da Pedagogia Ativa, movimento educacional de vanguarda de meados do século 20. Ele é contra, por exemplo, a ênfase dada ao aprendizado por meio de fórmulas mecânicas, como exercícios.

FONTE: http://planetasustentavel.abril.com.br

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