quarta-feira, 25 de novembro de 2009

25 de novembro - Dia Nacional do Doador de Sangue



Doação de sangue

Ninguém está livre de precisar de uma transfusão de sangue. Ninguém está livre de sofrer um acidente, de passar por uma cirurgia ou por um procedimento médico em que a transfusão seja absolutamente indispensável.
Como não existe sangue sintético produzido em laboratórios, quem precisa de transfusão tem de contar com a boa vontade de doadores, uma vez que nada substitui o sangue verdadeiro retirado das veias de outro ser humano.
Todos sabemos que é importante doar sangue. Mas, quando chega a nossa vez, sempre encontramos uma desculpa – Hoje está frio ou não estou disposto; nesses últimos dias tenho trabalhado muito e ando cansado; será que esse sangue não me vai fazer falta... - e vamos adiando a doação que poderia salvar a vida de uma pessoa.
Sempre é bom frisar que o sangue doado não faz a menor falta para o doador. Conseqüentemente, nada justifica que as pessoas deixem de doá-lo. O processo é simples, rápido e seguro.


Mensagem da Dra. Maria Angélica Soares, médica, coordenadora do Hemocentro do Hospital São Paulo da UNIFESP, Universidade Federal do Estado de São Paulo.


PRÉ-REQUISITOS PARA DOAÇÃO

Drauzio – Como é feita a doação?

M. Angélica Soares - A pessoa precisa levar um documento de identificação e preencher um cadastro. Depois, faz um teste para ver se está com anemia. Basta um furinho no dedo para determinar o hematócrito (quantidade de hemácias no volume total de sangue) e saber se está em condições de doar sangue. Às vezes, não está anêmica, mas o meio litro de sangue que será retirado poderá fazer-lhe falta. Em seguida, mede-se a pressão arterial, o pulso e a temperatura.
O próximo passo é uma entrevista chamada triagem clínica cuja finalidade é avaliar os antecedentes patológicos e os possíveis fatores de risco daquele candidato à doação. Essa entrevista é baseada numa portaria, numa legislação que rege a doação de sangue no Brasil. Não é um interrogatório para investigar a vida das pessoas. São perguntas para proteger quem está doando e para conscientizar o doador de que a pessoa que vai receber o sangue precisa ficar bem e não ter problemas depois.
É importante lembrar que, apesar de feita a sorologia (testes para as doenças infecciosas), existem ainda doenças, como certos tipos de hepatite, para as quais não há triagem e que podem representar risco para o receptor. Há, ainda, janelas imunológicas –o teste demora algum tempo depois da infecção para ficar alterado – que precisam ser respeitadas, por menores que sejam elas.
No Brasil, existe ainda um procedimento que se chama auto-exclusão. A pessoa passou pela entrevista e vai doar o sangue. Se não conseguiu ou não quis ser totalmente sincera na entrevista e achar que seu sangue não deve ser utilizado para transfusão porque oferece algum risco, tem a oportunidade de fazê-lo de maneira sigilosa naquele momento. Basta assinalar num papel ou registrar eletronicamente que aquela bolsa deve ser excluída. É uma oportunidade que a pessoa tem de voltar atrás sem se expor ao profissional que a está entrevistando.

Drauzio – Quanto tempo toma essa entrevista?

M. Angélica Soares – Uns cinco minutos. O pessoal é treinado e as perguntas são objetivas. É sim ou não. Algumas situações impedem a doação só naquele momento. Eventualmente uma vacina ou medicação. Nesse caso, a pessoa é convidada a voltar dias mais tarde.

Drauzio – Muita gente se recusa a doar sangue porque acha que lhes fará falta o meio litro que será tirado. O que representa esse meio litro no volume total de sangue que circula pelo organismo?

M. Angélica Soares – Uma das exigências para a doação de sangue é o doador pesar pelo menos 50kg, porque está estabelecido que se pode retirar no máximo 9ml de sangue por quilo de peso. Portanto, com 50kg, ele pode doar uma bolsa com 450ml sem nenhuma repercussão negativa para o organismo.
Observe, por exemplo, o que acontece com as plaquetas, elementos sangüíneos importantes para a coagulação. Elas funcionam como tampões iniciais quando ocorre um sangramento. É como se um dique tivesse arrebentado e fossem colocadas pedras para conter a água. As plaquetas são repostas imediatamente na circulação, porque o baço é um reservatório enorme de plaquetas. São repostas tão depressa que há procedimentos para coletar apenas as plaquetas do sangue de uma pessoa. A mesma coisa acontece com a reposição dos glóbulos vermelhos que se recompõem num curto espaço de tempo.
Por isso, ninguém chega e vai diretamente doar sangue. Na triagem inicial, são observados critérios excludentes como peso, pressão arterial, hematócritos para identificar casos de anemia.



Drauzio – Qual é o volume médio de sangue que uma pessoa tem no corpo?

M. Angélica Soares – De quatro a cinco litros de sangue aproximadamente.

Drauzio – Na verdade, vocês só colhem um décimo do volume de sangue existente…

M. Angélica Soares – Exatamente.

Drauzio – Quais são as pessoas que não podem e não devem doar sangue?

M. Angélica Soares – A lista não é pequena. Não podem doar sangue pessoas:

1) que tiveram hepatite depois dos 10 anos de idade. Antes dessa idade, a doença não é empecilho porque provavelmente se trata de hepatite A, cujo vírus é eliminado por completo do organismo;
2) que tiveram hepatite B ou C, os portadores do vírus da AIDS ou de alguma doença infecciosa transmitida pelo sangue;
3) com diabetes que usam insulina ou anti-hipoglicemiantes por via oral; mulheres grávidas ou que estão amamentando;
4) com febre, peso abaixo de 50kg, com mais de 65 anos ou que tiveram perda inexplicada de 10% do peso em um mês;
5) com epilepsia ou crises de asma;
6) que tenham se submetido a grandes cirurgias, recebido transfusão, feito tatuagem ou colocado piercing há menos de um ano.

Drauzio – Por que tatuagem e piercing impedem a doação?

M.Angélica Soares – Não é nada contra a tatuagem ou o piercing em si. Infelizmente há casos de transmissão de algumas doenças por esses tipos de procedimentos. Hoje, o prazo é só de um ano, mas chegou a ser de dez anos, porque as técnicas eram por demais artesanais.
Por que um ano agora? Porque esse tempo é suficiente para um teste revelar que houve contaminação pelo vírus da hepatite, por exemplo. A pessoa pode não estar doente, mas o teste ser positivo e o sangue não servir para a doação.

Drauzio – Pessoas hipertensas podem doar sangue?

M. Angélica Soares – Podem, desde que a hipertensão esteja controlada.

Drauzio – Existem alguma outra situação que impeça o indivíduo de doar sangue?

M. Angélica Soares – Pessoas que estão fazendo regimes violentos para emagrecer, com problemas de tireóide ou quadros clínicos graves não devem doar sangue. Cada caso, porém, será discutido e avaliado pelo médico do setor. No entanto, a maioria das pessoas não tem nada, está bem de saúde e, portanto, pode doar sangue sem problema.
É comum sermos consultados se o uso de medicamentos impede a doação. Em si a medicação não funciona como empecilho, mas é preciso saber por que ela está sendo utilizada. Quem está tomando antibiótico não deve doar porque tem uma infecção. Já a aspirina e os antiinflamatórios não interferem. O único cuidado que nós do banco de sangue vamos ter no fracionamento da bolsa é desprezar as plaquetas das pessoas que tomam aspirina porque a ação coagulante não será adequada.

Drauzio – Qual é o intervalo mínimo entre uma doação e outra?

M. Angélica Soares – Para os homens é de dois meses; para as mulheres, três meses e dos 60 até os 65 anos, seis meses.
Importância da doação

Drauzio – Por que é importante doar sangue? Para que serve esse sangue doado?

M. Angélica Soares - As pessoas podem pensar – Por que vou doar sangue se não houve um World Trade Center nem outra catástrofe por aqui?
É preciso doar porque os hospitais grandes onde são tratados todos os tipos de pacientes necessitam de sangue disponível em qualidade e quantidade adequada. Se não houver sangue num hospital, as cirurgias serão canceladas. Pacientes submetidos a cirurgias cardíacas, transplantes de rins, de fígado e de medula óssea entre outras, necessitam muito de sangue e de plaquetas e será enorme o ônus se tais procedimentos forem adiados. Se o doente fizer quimioterapia, por exemplo, e não receber o suporte da transfusão, poderá não superar o tratamento.
As pessoas precisam entender que devem doar sangue não só atendendo ao apelo de que os estoques estão acabando. É preciso pensar que os estoques têm que estar nos níveis adequados para o primeiro atendimento caso aconteça um imprevisto, uma catástrofe (o que eu espero não ocorra nunca).
Sangue não sobra. Ninguém deve imaginar que o tipo de seu sangue é comum e que por isso não precisa doar. Precisa, sim, porque esse sangue vai fazer falta.

Drauzio – O sangue doado tem sempre utilidade.

M. Angélica Soares – No dia seguinte à doação, se os testes forem negativos, ele estará no braço de alguém ajudando a salvar uma vida.



FONTE:http://www.drauziovarella.com.br

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