29/09/10
Por Mônica Vitória
Ilan Brenman é escritor e contador de histórias profissional, além de participar de palestras e de cursos de formação de professores em diversos lugares do Brasil. Para ele, as histórias de ficção são fundamentais para entender e até mesmo mudar a realidade. Mestre e Doutor em Educação pela Universidade de São Paulo, Brenman é apaixonado pela literatura infanto-juvenil, possuindo um acervo de cerca de quatro mil livros. Publicados por ele já existem 22, a maioria voltada para crianças.
O Conexão Professor conversou com Ilan sobre um dos temas mais abordados por ele em suas palestras – o incentivo à leitura entre os jovens e o papel do professor nessa missão. Em seu site
http://www.ilan.com.br, o escritor dá outras dicas e sugere alguns títulos infanto-juvenis.
Conexão Professor (CP) - O livro ainda é uma ferramenta fundamental na educação?
Ilan Brenman - A mais fundamental de todas as ferramentas, já que carrega dentro de si LINGUAGEM! Somos feitos de linguagem e somente através dela é que podemos transformar o nosso mundo interior e exterior.
CP - Qual é a importância de se ler livros num momento em que os jovens estão cada vez mais conectados e trocando os livros e outras atividades pela internet?
Ilan Brenman - O livro requer silêncio, um encontro solitário consigo mesmo, é o momento em que os jovens podem realmente ouvir a música de sua alma, podem mergulhar nos seus pensamentos e emoções, é um momento genuinamente humano em que nos deparamos com todas as nossas perfeições e imperfeições. A internet possibilita isso? Creio que não.
CP - Você acredita na afirmação de que o adolescente brasileiro de hoje não gosta de ler? Por quê?
Ilan Brenman - A pergunta deveria ser: não gosta de ler o quê? Livros escolares? Livros didáticos? Os maiores sucessos de vendas de livros estão nessa faixa etária, e isso vale para o mundo todo. “Crepúsculo”, “Percy Jackson e O Ladrão de Raios”, “Harry Potter”, “Diário de um Banana”, “O Diário da Princesa”, “A Droga da Obediência” etc. O adolescente gosta de ler aquilo que ele escolhe, não ao contrário. É evidente que é importante introduzir autores que consideramos essenciais para a formação desse jovem, porém, é tão importante quanto possibilitar que ele escolha suas leituras e através delas fazermos pontes com outras obras. Por exemplo: a partir do livro "Percy Jackson e o Ladrão de Raios" introduzir mitos gregos recontados por outros autores; partindo de "Crepúsculo" apresentar Bram Stoker, clássico do gênero vampiro; de “Harry Potter”, apresentar Tolkien etc.
CP - O preço de algumas obras ainda é considerado caro para boa parte da população. É possível driblar esse obstáculo?
Ilan Brenman - Discordo em parte dessa afirmação, o livro é caro em relação ao salário mínimo? Sim, concordo. Mas ao mesmo tempo vejo famílias de renda baixa que fazem um esforço danado para comprar um celular para o filho, ou um tênis mais "tchan", ou uma televisão LCD etc. Mas quando se fala de um livro a reação é sempre que é muito caro. Isso vale também para pessoas de alto poder aquisitivo, que dão para os filhos o décimo par de tênis importado, o último videogame do momento e ao mesmo tempo abrem o berreiro quando a escola solicita um livro de 30 ou 40 reais. A questão é qual o valor que damos para o livro, para a formação cultural dos nossos filhos. Hoje em dia podemos ler livros inteiros nas livrarias, bibliotecas públicas e comunitárias etc.
CP - O papel de incentivar os alunos à leitura é mesmo da escola?
Ilan Brenman - O papel é também da escola. A família e a comunidade são aliados importantes nesse processo. Famílias leitoras ajudam a formar jovens leitores, cidades com boas bibliotecas possibilitam mais acesso aos livros.
CP - Por que e como os professores devem desempenhar essa função? Por onde começar?
Ilan Brenman - Começo de tudo: o professor deve ser um modelo de leitor. Sem professores desejosos de literatura, muito árdua será a missão de formar alunos leitores.
CP - Que conselhos você daria para estimular os educadores a aproximar os jovens dos livros?
Ilan Brenman - Surpreendam seus alunos, leiam trechos de livros em voz alta para eles, escolham livros que despertem o interesse dos alunos, construam pontes narrativas, contem sobre livros que vocês estão lendo, despertem a curiosidade, provoquem com temas que eles gostem.
CP - Quais autores de literatura juvenil você indicaria nas escolas?
Ilan Brenman - Rodrigo Lacerda, Pedro Bandeira, João Carlos Marinho, Caio Ritter, Toni Brandão, Índigo, Heloísa Prieto e Dioniso Jacob.
FONTE: Conexão Professor